Ivan e Ivana são irmãos gêmeos tão parecidos, que um olhar desavisado é capaz de confundi-los. Quando nasceram, em Dos d’Âne, um vilarejo pobre em Guadalupe, a pequena ilha caribenha, trouxeram alegrias infinitas à sua mãe, Simone, já acostumada ao advento de múltiplos em sua família. Inseparáveis, eles desfrutam das delícias do mundo nos primeiros anos de vida: o mar, a areia, a música e os carinhos.
O tempo, porém, deixou marcas muito diferentes em cada um. Ivana logo se revela doce e servil – sonha em ser enfermeira ou policial para ajudar as pessoas. Ivan, por outro lado, se revolta com a condição em que vê a si e aos seus – a miséria e o racismo lhe ferem fundo, e ele não consegue compreender por que o mundo é assim. Apesar da distância que se cria entre eles, o amor dos irmãos é tão forte que assusta e chega até mesmo a levantar suspeitas.
O destino dos dois é desenhado entre o fatal e o arbitrário. Quais os caminhos que uma única alma em dois corpos pode traçar? Quais escolhas delineiam as consequências de nossos atos? E quais fatores fogem do nosso controle? Quantas versões cabem em uma história?
Maryse Condé, a premiada escritora caribenha, alia o maravilhoso e o trágico nestas páginas ao misturar a vida singular a grandes questões globais. A autora trata com lirismo temas como racismo, sexismo, desigualdades sociais e econômicas, migração e terrorismo jihadista. O caos contemporâneo emerge entre dúvida, fé, violência e amor. Um livro fabuloso e triste para ressoar em todos – mesmo muito depois terminadas suas páginas.
Maryse Condé nasceu em Pointe-à-Pitre, Guadalupe, em 1937. É uma das mais premiadas escritoras de língua francesa. Doutora em Literatura Comparada pela Sorbonne, lecionou em diversas universidades como Berkeley, Universidade da Virgínia e Columbia, onde fundou o Centro de estudos franceses e francófonos. Sua extensa obra incluí romances, contos, teatro e ensaios. Publicado originalmente em 1999, “O coração que chora e que ri” venceu o prêmio Marguerite Yourcenar. Entre as obras publicadas em português estão “Eu, Tituba: bruxa negra de Salem” (2020), e “O evangelho do novo mundo” (2022). Em 2018 recebeu o The New Academy Prize em literatura, o prêmio alternativo ao Nobel, suspenso aquele ano.