A Justiça é Uma Mulher Negra. /Autoras: VAZ, Lívia S.; RAMOS, Chiara.

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O primeiro livro da Coleção Juristas Negras, A justiça é uma mulher negra já traz em seu próprio título um caráter disruptivo. Confrontar a branquitude e a epistemologia ocidental estabelecida no universo jurídico é um ato que, por si só, confere identidade singular à criação das autoras, Lívia Sant'Anna Vaz e Chiara Ramos. Trata-se de uma obra multidisciplinar que coloca em diálogo o Direito, a história e uma visão afrodiaspórica interseccional na construção de uma justiça pluriversal. O resultado é uma experiência teórico-vivencial multipotente, regada a expressões artísticas como músicas, poemas, ilustrações e muito afeto. Assim como o resgate de saberes ancestrais que permeia toda a produção, a inovação é revelada através de QR-Codes dispostos no decorrer dos escritos, remetendo o público para outras dimensões do saber. Este é um livro para ser lido e sentido, essencial para quem quer enxergar o mundo sem as lentes impostas pelo colonialismo, racismo e sexismo.


Lívia Sant'Anna Vaz é uma mulher negra e nordestina, nascida em Salvador (BA), a cidade mais negra fora da África. E mesmo aqui, ainda menina, antes que eu pudesse descobrir minha negritude, “gritaram-me negra!”, exatamente como no poema de mesmo nome de Victoria Santa Cruz. Mas não retrocedi! Negra, sim! Negra, sou! E ainda mais negra me tornei ao longo do tempo, num processo contínuo de libertação a partir da construção da minha própria identidade; processo que, no entanto, não é livre de dor. Já adolescente, lembro-me como se fosse hoje quando o meu pai me chamou no canto da sala preocupado com o meu futuro profissional. Eu, a sua “doce rebelde”, que sempre tinha resposta pronta para tudo, retruquei: quero ser jornalista! Ainda posso ver seu olhar e sentir o tom da sua voz: “Você já viu alguma jornalista negra na televisão? Por que não segue a carreira de jurista? Você sempre gostou tanto de debater...”. Depois sorriu, lembrando das reuniões de família em que eu refutava cada um dos argumentos apresentados por minha mãe. Seguindo a valiosa orí-entação ancestral que recebi, ingressei na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na qual, além de me graduar, cursei o mestrado em Direito Público. Ainda como acadêmica, tive a chance de estagiar no Ministério Público quando decidi que queria ser promotora de justiça, cargo que ocupo desde 2004. Doutoranda em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), tenho me dedicado a compartilhar minhas insurgências epistemológicas e vivenciais, especialmente com outras meninas e mulheres negras, para que descubram a potência transformadora de suas vozes e seus corpos. Recentemente reconhecida como uma das 100 Pessoas Mais Influentes de Descendência Africana do Mundo, na Edição Lei & Justiça, hoje, sinto-me realizando justamente a missão que me foi entregue pela ancestralidade.


Chiara Ramos é uma mulher negra, filha do amor de Cláudio e Carla, nascida e criada nos engenhos de cana-de-açúcar da Zona da Mata de Pernambuco. Filha de Iansã com Ogum, nasci destinada a guerrear pela justiça. Não por coincidência, decidi que seria advogada aos nove anos de idade, mesmo sem nunca ter visto tal profissional. Com essa mesma idade, encontrei no judô o passaporte para oportunidades de estudos através de bolsas, até conquistar minha tão sonhada vaga na Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mesmo apaixonada pela vida acadêmica, as dificuldades financeiras me levaram ao estudo para concursos públicos, ainda no nono período. Sem recursos para me matricular em cursinhos, desenvolvi uma metodologia própria de preparação, que possibilitou a minha aprovação em diversos exames antes mesmo da conclusão da graduação. Hoje, essa metodologia auxilia diversas pessoas, sobretudo mulheres negras, a se aproximarem dos seus sonhos de também ocuparem um cargo no sistema de justiça. Realista esperançosa, a menina de engenho se tornou Procuradora Federal por convicção, professora por vocação e pesquisadora por inquietação. Doutoranda em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), em cotutoria com a Universidade de Roma (La Sapienza), graduada e Mestra em Direito pela UFPE, ocupei diversos cargos de direção e chefia na Advocacia-Geral da União (AGU). Criada por uma família interracial cercada de pessoas brancas, demorei a entender por que me sentia tão desencaixada e não pertencente àquele universo da elite com a qual convivia desde a faculdade. Hoje, sei o que significa ser negra, a partir da encruzilhada que intersecciona gênero e raça. E é a partir desse lugar que busco (re)construir minha própria narrativa, sobre o Direito e o sistema de justiça.
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